Quarta-feira, 2 de Abril de 2008
Unidade sem Anestesia (5)

Estadistas, precisam-se

 

Sobram os dedos de uma só mão para contar aqueles Estadistas que apareceram à frente do nosso País nos últimos cem anos.

Estão a tornar-se um bem preocupantemente escasso! Ou se é, ou não se é. Eis a questão!

Sabe-se que se nasce já com esse dom, e o muito que se pode fazer, é ajudar a melhorar o seu desempenho.

Mas, para tal, é preciso que eles apareçam.

Aqui radica, e mais transparece, toda a crise partidária; querer ou saber como captá-los. Eles andam por aí, não muitos, mas andam. Mesmo num País ingovernável como parece estar o nosso!

 

Este, ou qualquer outro governo, com o tempo, acaba por se sentir completamente tolhido na sua acção governativa, com uma liderança a pensar pequeno. A força das corporações, e outras, são de facto eficazmente bloqueadoras.

O País também o sente.

Num primeiro momento, os governantes que vamos tendo ainda inventam uma qualquer ASAE, para mostrarem que mandam. De facto mandam nas “ginjinhas do Rossio”!

Depois, o desânimo abate-se sem piedade. Eles não mandam nada! E o País vai andando mal.

 

Os possíveis Estadistas que existam neste reino, farejam esta realidade e, como qualquer homem comum, escondem-se na mediocridade, mesmo sentindo o chamamento.

Ficam-se nas covas. Não sentem o mínimo de condições exigíveis para avançar!

Aos donos dos partidos isto interessa e muito. A mediocridade da classe política serve a muita gente, não ao País. Principalmente quando o líder governativo apelida os seus opositores de mesquinhez, tomando como mérito seu o sacrifício de todo o povo para equilibrar as finanças públicas.

Os verdadeiros “Homens de Estado” para aparecerem precisam, no entanto, de acreditar ter chegado o momento certo. Depois, a sua acção e postura vão demolindo os bloqueios corporativos e vão fazendo sobressair os mais capazes. Afastam o servilismo e a obra começa a surgir. Com ela regressa a autoridade perdida.

 

O verdadeiro Estadista pensa na próxima geração, nunca na próxima eleição. O seu sentido de estado funciona melhor que qualquer GPS (Sistema de Posicionamento Global) na descoberta do caminho certo para os altos interesses colectivos. É uma pessoa desprendida, segue na senda dos valores e não se deixa enredar nos pequenos interesses de grupo. Torna-se incómodo, mas granjeia o respeito das maiorias. Arrasta com o seu forte carácter e força interior, todo o País para o desenvolvimento e bem-estar social.

Faz crescer o PIB em vez de escravizar a população com escandalosos impostos.

Os bandos corporativos, amantes de governantes fracos, deixam de ter a sua governação subterrânea, tão eficaz na defesa da continuidade dos seus interesses pessoais e de casta.

 

Os potenciais Estadistas, tal como os golfinhos na década de sessenta, quando a poluição invadiu o estuário do Tejo, fugiram para longe. A inteligência e sensibilidade dos golfinhos, tal como a dos Estadistas, não lhes permite lidar, dia a dia, com tanta opacidade. Querem a água onde se movimentam bem transparente.

Hão-de voltar um dia.

Mesmo assim, talvez esteja na hora do País pôr nos grandes jornais mundiais um anúncio como segue:

 

“Estadistas, precisam-se; condição indispensável falarem a língua de Camões desde nascença”

 

Certamente que no “casting” será rejeitado todo e qualquer candidato por afirmar que, com excepção do seu, todos os partidos estão mal.

Certamente será escolhido todo e qualquer candidato por afirmar que todos os partidos devem ser profundamente revistos no seu funcionamento interno. Todos estão mal.

Em especial há um que está completamente anestesiado.

As regras internas de funcionamento dos partidos devem ser legisladas e, portanto, serem iguais para todos, para que nos sufrágios haja, de facto, eleições democráticas.

Igualdade à partida.

Quem chamar a isto “coisas mesquinhas” não tem estatura de Estadista.

O povo paga com os seus altíssimos impostos os partidos que temos e deixa-lhes nas mãos o poder de conduzirem o País. Resta-lhe, a este povo, o direito que o funcionamento dos mesmos seja avaliado por uma credível “Alta Autoridade”, constituída por homens bons e de grande credibilidade. Em debate nacional.

A avaliação quando nasce é para todos. “Cada um dará o seu melhor para um país mais justo, para um país mais pobre...”.

 

António Reis Luz

Militante partidário



Publicado por rui.freitas às 01:39
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2 comentários:
De IM a 3 de Abril de 2008 às 15:51
A última frase

“Cada um dará o seu melhor para um país mais justo, para um país mais pobre...”.

é a conhecida gafe do 'primeiro'?


:)

[]
I.


De rui.freitas a 4 de Abril de 2008 às 01:24
Exactamente, Isabel.
E, segundo o autor do "post", no Brasil já aparece a cara do Socrates em publicidade a uma fita cola onde se vê o nosso PM com a boca fechada com essa fita cola e com essa "celebérrima" frase!
Que bela figura!!!


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